Match Point é um jantar completo. Scoop não passa de uma sobremesa. Foi o próprio Woody Allen quem forneceu essa definição curiosa _ em entrevista à revista Elle de março _ para seus dois filmes mais recentes, estrelados por sua nova musa (embora ele afirme não saber o que isso significa) Scarlett Johansson.
A opinião daquela que escreve essas linhas? Eu trocaria um jantar completo por uma simples sobremesa com relativa facilidade. Não que eu não tenha gostado de Match Point. Ao contrário, acho que é um filme genial, comparável a Annie Hall, o melhor de Allen pra mim. Mas Match Point carece daquela que é a essência da obra de Allen, a graça inteligente e ácida, mas ainda assim, leve e despretensiosa.
Scoop é assim. Cheio de graça, inteligente, ácido, leve e despretensioso. Scarlett não encarna (ufa!) uma mulher fatal, e isso é uma bênção, porque, no fim das contas, ela é bem divertida, fato esse quase sempre ocultado por suas formas voluptuosas, seus lábios carnudos e seus cabelos loiros.
Talvez eu tenha curtido o filme mais por motivos pessoais. A trama se passa em Londres, e só isso já conta muitos pontos num filme pra mim. O esnobe sotaque britânico, o cosmopolitismo londrino nato, a fixação que os ingleses têm pelo campo, o humor corrosivo e refinado dos servos da rainha Elizabeth. Tudo isso me agrada deveras. Tudo isso Scoop tem. E mais: Scarlett interpreta uma aspirante a jornalista. Uma estudante, vá lá. Identifiquei-me, pronto. Não que eu pretenda ser uma jornalista de verdade um dia, que dirá uma jornalista policial, mas identifiquei-me, é fato.
Gostei de Hugh Jackman também. Me fez esquecer por quase todo o filme que ele é e sempre será Wolverine, uma façanha considerável. Se vocês não associam Hugh Jackman a Wolverine necessariamente, perdoem, mas eu associo sim. Lembrem, eu tenho um filho de 7 anos totalmente fissurado pelos X-Men, e já vi os vários filmes da trupe algumas dezenas de vezes cada um. Pois, nem lembrei de Wolverine. O que me levou a pensar que a atuação do referido senhorito foi relativamente boa.
Outras coisas legais sobre o filme: o roteiro foi escrito sob medida para Scarlett exercitar seu lado comediante. A mim, pelo menos, ela não decepcionou. Scoop é cheio de bons improvisos. Woody Allen sempre diz que toda vez que ele tem uma tirada súbita durante uma cena, a maioria dos atores com quem contracena, por melhores que sejam, não resiste e cai na risada, o que, obviamente, estraga a performance toda. Scarlett entra na dança e responde na hora, sem demonstrar que está se segurando pra não morrer de rir. Scoop ainda tem Allen no elenco. Mais uma que ele não cansa de repetir: está ficando cada vez mais difícil pra ele achar papéis pra ele mesmo dentro de um filme. Allen é um diretor brilhante e um ator bem limitado, como todo mundo sabe, e ele não tem pudores de assumir. Ele é comediante, e só sabe interpretar a figura neurótica da trama. Para tanto, todos os fimes em que ele atua têm obrigatoriamente que ter uma figura cômica neurótica, o que dificulta o desenvolvimento de roteiros levemente diferenciados.
Então é isso. Vejam Scoop. Sem esperar demais dele. Divirtam-se e distraiam-se por 90 minutos de suas vidas atribuladas. E regozijem-se com a figura do mágico Splendini na tela. Pelo visto, vai ficar bem raro ver Woody Allen num filme de Woddy Allen daqui pra frente.
9 comments:
isso de botar 2 posts no mesmo dia (ainda mais dois textos grandinhos) vai fazer com q muita gente nao leia esse daqui. tudo bem q a espera foi muita mas nao vamos com afobação. ja vi esse filme. começa a todo vapor e depois...
Gio, eu nao achei match poit o ó do borogodó nao. scoop ainda nao vi.
e eu nao sinto falta de woody allen fazer um papel diferente, quando o q ele faz faz tao bem!
*point
mas erre, esse é o ponto. woody allen não faz e não fará papéis diferentes somente por um motivo _ ele não sabe fazer. ele é um ator bem limitado, como ele disse e eu repeti no post. ele não consegue fazer qualquer coisa diferente do neurótico tragicômico.
e não, os posts não foram escritos no mesmo dia. a gente é que resolveu divulgar nos dois blogs ao mesmo tempo só quando cada um tivesse escrito um post. mas não vai ser sempre assim não.
bom
eu nao sou fã do allen... talvez por isso eu tenha gostado tanto de match point.. mas eh meio que remake, neh? entao, como fica? :)
A história parece, mas eu não chamaria de remake.
esse é o point, digo, o ponto.
tudo bem q wa seja limitado, nao saiba fazer outro papel e blá blá blá.
mas isso nao tem a MENOR IMPORTANCIA. pelo menos pra mim.
falcão _ coro com tautologico, não é remake, é inspirado em "pecados e mentiras", mas o roteiro é bem diferente.
erre _ foi mal, pensei ter lido que tu sentia SIM falta de allen em outros papéis, por isso repliquei.
Opa, opa. assisti scoop e me pareceu que woody allen estava de férias, de modo que fico bem feliz que ele mesmo tenha descrito como uma sobremesa, comparado com o jantar de match point. gostei de match point, sim, mas de fato não é muito característico do diretor e faz falta a marca dele. e sim, scoop tem. não digo que prefiro scoop a mp, mas fiquei feliz de ver W.A. de novo atuando, naquele papel de sempre e que adoro, por exemplo. ele está irritantíssimo em scoop, e scarlet está sim, ótima! concordei com tanto do que vc escreveu que... bem, escrevi demais, até, pra quem não queria só repetir...
ps: hugh jackman. o que é aquele rapaz, hein? e vc viu? altíssimo! nada wolverine... ai, ai.
Também vi Scoop, e concordo com o post. Também acho legal ver Woody Allen de volta aos maneirismos de sempre e ao personagem-ele-mesmo.
Quanto a Hugh Jackman, uma das reclamações dos fãs dos quadrinhos quando do primeiro X-Men foi que ele era alto demais para o papel. E nos filmes não tentaram deixar ele baixinho, o que foi uma boa.
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