As pessoas gostam ou não de filmes (ou livros, ou música, o que for) por vários motivos, mas sempre há um forte componente emocional. Isso é reflexo de um fenômeno mais geral: gostamos de achar que estamos no controle, que nossas decisões são racionais, mas a neurociência atual parece indicar que raramente são. O que temos são um conjunto de racionalizações que criamos post factum, após ter decidido segundo critérios mais obscuros de nossa psiquê.
Fato é que a maioria das pessoas tende a equacionar "eu gostei de X" com "X é bom" em um silogismo meio falho. No exemplo de filmes: Eu gostei de Matrix; logo, Matrix é um bom filme. Já consigo ver pessoas nos comentários discutindo os méritos (ou falta deles) de Matrix; não é a questão aqui. A questão é pensar direito sobre essa questão; pensemos: será que tudo que eu gosto é necessariamente bom? Quem nunca gostou de alguma coisa que sabia que era ruim, seja uma novela, uma boy band ou um filme B de ficção-científica? Em inglês tem até uma expressão para isso: guilty pleasure.
Então vamos desvincular as coisas. Tenho certeza que a mãe de Fernandinho Beira-mar gosta muito dele, e que a mãe de Suzane von Richthofen gostou dela até a morte, mas isso não quer dizer que essas pessoas sejam boas. Isso vale no outro sentido também: pode muito bem existir algum livro ou filme ou música que tem incontáveis qualidades e é amado e louvado por críticos e aficcionados do mundo todo, e mesmo assim a pessoa não simpatiza com a coisa amada e louvada por todos. Alguma vergonha nisso? Existe motivo para dizer "eu AMO Fellini" quando se dormiu vendo Otto e mezzo? Eu acho que não. Tenhamos gosto próprio, por favor. Eu mesmo só vi um filme de Fellini, e achei chatíssimo.
Por isso mesmo posso comentar aqui, eventualmente, sobre livros e filmes e músicas e qualquer outra coisa que é ruim mas eu gosto. Ou que são boas mas eu não gosto, embora isso seja mais difícil porque eu prefiro comentar sobre as coisas que eu gosto, naturalmente.
Não, Matrix não está nos planos. Por enquanto.
Fato é que a maioria das pessoas tende a equacionar "eu gostei de X" com "X é bom" em um silogismo meio falho. No exemplo de filmes: Eu gostei de Matrix; logo, Matrix é um bom filme. Já consigo ver pessoas nos comentários discutindo os méritos (ou falta deles) de Matrix; não é a questão aqui. A questão é pensar direito sobre essa questão; pensemos: será que tudo que eu gosto é necessariamente bom? Quem nunca gostou de alguma coisa que sabia que era ruim, seja uma novela, uma boy band ou um filme B de ficção-científica? Em inglês tem até uma expressão para isso: guilty pleasure.
Então vamos desvincular as coisas. Tenho certeza que a mãe de Fernandinho Beira-mar gosta muito dele, e que a mãe de Suzane von Richthofen gostou dela até a morte, mas isso não quer dizer que essas pessoas sejam boas. Isso vale no outro sentido também: pode muito bem existir algum livro ou filme ou música que tem incontáveis qualidades e é amado e louvado por críticos e aficcionados do mundo todo, e mesmo assim a pessoa não simpatiza com a coisa amada e louvada por todos. Alguma vergonha nisso? Existe motivo para dizer "eu AMO Fellini" quando se dormiu vendo Otto e mezzo? Eu acho que não. Tenhamos gosto próprio, por favor. Eu mesmo só vi um filme de Fellini, e achei chatíssimo.
Por isso mesmo posso comentar aqui, eventualmente, sobre livros e filmes e músicas e qualquer outra coisa que é ruim mas eu gosto. Ou que são boas mas eu não gosto, embora isso seja mais difícil porque eu prefiro comentar sobre as coisas que eu gosto, naturalmente.
Não, Matrix não está nos planos. Por enquanto.
10 comments:
sendo assim eu acho que posso considerar que eu sou relativamente honesta nesse ponto.
eu acho que eu consigo gostar de coisas ruins sabendo que são ruins.
embora isso seja confuso né? porque, se você gosta, você acha que é bom de alguma forma, pelo menos pra você, ou somente pra você.
o fato é: depois desse post me sinto mais em casa pra escrever sobre coisas que eu tenho certeza de que só eu vou gostar.
Sim, concordo que se a pessoa gosta, é porque achou bom de alguma forma. O problema é igualar isso com um julgamento objetivo de que aquela coisa é boa.
Eu acho que dá pra separar, e por isso que eu falei sobre os motivos emocionais. Por exemplo, nostalgia às vezes afeta, a pessoa pode gostar profundamente de alguma coisa que viu ou leu ou ouviu quando era mais jovem, talvez mais pelo apelo emocional e pela lembrança da época do que pelos méritos da coisa em si.
Enfim, é isso. E claro que é pra postar mesmo sobre coisas que só tu vai gostar.
Taí um post que eu tenho dois exemplos bem claros:
- Gio tem gostos muito cults
- Breno odeia os Beatles
Agora tenho que gravar esse post! É a primeira vez que vejo Andrei dizendo que não gostou de determinado filme.
Mas acho que esse pensamento de "se eu gosto, logo, é bom" é bastante falho, tanto que quando você vai fazer uma indicação de filme a alguém e já conhece o gosto da pessoa, muitos filmes poderão ser cortados da lista de sugestões para a criatura.
bom topico. antes de dar minha abalizada e ao mesmo tempo modesta opiniao, lembrei enquanto lia os comentarios que entrei no blog de Cris e achei um tédio.
Bom, gostar e dizer que é bom funciona bem diferente quando se trata de filmes ou de pessoas, ao contrario do q vc faz parecer. pelo menos é assim q funciona comigo. eu posso me apaixonar por uma figura que é um traste e nao ver graça numa pessoa legal e linda. aliás, nao tem aquela historia da mulher de malandro? pois.
já com um filme, se eu gosto, é porque, no meu julgamento, ele é bom. nao consigo lembrar de ja ter pensado: "esse filme é uma bosta, mas eu gostei."
mas tem os filmes chatos. eu dormi vendo lavoura arcaica; dou uns cochilos sempre q vejo algum glauber. mas são filmes q reconheço inumeras qualidades.
é como falei outro dia no açaí: um filme pode ser genial e nao necessariamente ser divertido.
Sim, mas é isso que eu estou dizendo. Você reconhece, objetivamente, os méritos desses filmes, mas não necessariamente gosta deles. Tem filmes que eu não posso dizer que acho divertidos, mas eu gosto de assistir, por ex. 2001 de Kubrick, e tem outros que eu nem acho divertidos nem sinto muito prazer em ver, por algum motivo, embora eu veja os méritos do filme e do diretor.
Acho que isso funciona do outro lado também: há filmes que não são necessariamente bons, não têm lá muitos méritos artísticos, mas que são divertidos se vc assistir sem exigir muito deles. Diversão descompromissada e tal. Mas se você for analisar com calma, a história é um cliche só e o diretor não faz nada muito inspirado e por aí vai.
E isso vale para outras coisas além de filmes. Eu li O Código da Vinci e não achei um bom livro, mas a história me prendeu e eu me diverti em algumas partes. Por outro lado, tentei ler um livro de contos de Camus e não consegui chegar no terceiro, sendo que os dois primeiros não me tocaram em nada. Acontece.
Ontem mesmo tive uma pequena discussão sobre isso..
Eu pelo menos nunca tive muita dificuldade em reconhecer q gosto de muitas coisas ruins, do mesmo jeito q tem coisas q eu sei q são boas mesmo mas não consigo gostar.
Esse segundo caso ("é clássico mas não me agrada") eu atribuo ao momento pessoal, oq vc pensa e sente no instante q vê algo. Por exemplo, vc ouve um disco agora e não gosta. Um mês depois ou um ano depois vc torna a ouvi-lo e de repente se dá conta de q é o disco da sua vida. Pq isso? Pq suas "tensões interiores" se afinaram com algo no disco, ou alguma caracteristica dele ficou mais aparente pra vc naquele momento, e foi isso mesmo q te conquistou, etc.
É por isso q não acredito em críticas.
se Luís diz que é, é porque é.
Luís é suspeito, ele fala como artista.
o que é "o bom"?
se alguém responder isso, eu comento sobre o post.
cara
EU jah vi andrei descer o pau em varios filmes e livros.
iuheoiuheoiuhe
acho que o problema sou eu.
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