Thursday, May 31, 2007

En Taro Adun!

Não sou muito da idéia de postar notícias aqui, mas há um conjunto de fatores em ação que resultaram neste post: 1) para manter a coisa fluindo 2) o acontecimento tem significância, pelo menos para mim e 3) porque eu já queria falar sobre games aqui antes; fica como estréia.

A questão é que, há alguns dias, a Blizzard -- empresa que faz uns jogos bem legais como Diablo e Warcraft -- decidiu anunciar uma notícia bombástica em um evento na Coréia do Sul. O lugar tem sua significância, já que os coreanos ficaram tão viciados nos jogos de estratégia da Blizzard que praticamente os transformaram em esportes nacionais. Os campeonatos são até transmitidos pela TV, em horário nobre. E aí todos já esperavam o anúncio de um novo jogo. E as especulações giravam em torno da continuação de StarCraft, o jogo de estratégia em tempo-real mais bem sucedido de todos os tempos, que ainda registra um número de vendas significativo apesar de ter sido lançado há quase 10 anos -- coisa rara no ramo. Dia desses mesmo, vi a caixinha à venda numa mega-store da Saraiva.

O importante, nesse ponto, é notar que especulações e boatos sobre uma continuação de StarCraft aconteciam na internet de forma repetida, transformando esse possível StarCraft 2 em algo como uma lenda, um mito; como aquelas histórias que se você não mandasse X mensagens repetidas para todos da sua lista do msn, a microsoft iria cobrar 10 centavos por cada mensagem enviada, só que mais duradoura.

Mas é que foi, é mesmo StarCraft II. Posso apenas imaginar a comoção nacional causada lá na Terra da Manhã Tranqüila. Não só isso: a Blizzard revelou que o jogo está em desenvolvimento, em segredo, já desde 2003, após o lançamento de Warcraft III. Pelo que eu vi do jogo (tem um vídeo mostrando uma demo do jogo no site) ele realmente está bem encaminhado; deve faltar mais balanceamento estratégico e criação de unidades, o engine gráfico aparenta já estar pronto.

Que venha. Só é uma pena porque ainda não foi anunciada data de lançamento, o que não adiantaria muito mesmo porque a Blizzard sempre atrasa. Com uma data, eu poderia saber com antecedência quando é que minha produtividade vai sofrer um baque. Já posso ver a cena:

"En Taro Adun, Orientador. Não, não terminei de coletar os dados, estive muito ocupado livrando o universo dos Zergs."

Tuesday, May 22, 2007

O futuro da França, e do mundo todo junto com ela

Bruno provocou, no ótimo sentido, claro, (no flog, tudo bem, mas vale) e eu resolvi responder. Porque eu me disse que eu ia falar sobre isso aqui e nem falei. Falo, agora, pois.

Eleições presidenciais na França.

Vou abster-me de comentar a disputa em si e apontar apenas uma coisa com a qual tenho mais intimidade: o comportamento dos franceses diante do processo todo.

Nos dias das duas votações _ de primeiro e segundo turno _ alguns franceses amigos que moram em Campinas reuniram-se aqui em casa pra assistir à cobertura da votação, à divulgação do resultado e ao pronunciamento do(s) vencedor(es). Todo mundo numa ansiedade só, muito vinho pra aguentar a espera, o maior clima de final de Copa do Mundo. E só se falou disso por semanas inteiras. Da participação massiva da população, que superou com folga as marcas das eleições anteriores, e da vitória de Sarkozy, que era tida como certa por quase todo mundo bastante tempo antes do segundo turno, e do que ela representaria, não só para a França, mas para todo o mundo.

Eu poderia dizer que os franceses são mais politizados do que nós, e que acompanham as mudanças políticas de seu país com mais fervor e entusiasmo, mas não é esse o meu ponto.

O meu ponto é: os franceses se acham muito importantes. Claro que isso é horrível, muitas vezes, quem convive com eles sabe bem disso. Mas, em outras vezes, isso é uma prova impressionante de lucidez.

Eles têm perfeita consciência de que a França representa muitos valores que o mundo inteiro tem como fundamentais. Eles sabem que a França ainda é um bastião de resistência contra o autoritarismo, seje ele de que tipo for, ou de onde quer que venha. Têm certeza de que sua cultura e seu modo de vida influenciam, ainda e em grande medida aquilo que se pensa, se produz e se consome por todos os lados.

Vejam bem, eu não estou afirmando que a França representa isso ou aquilo, que é isso ou aquilo, que a cultura francesa faz ou desfaz. Esta é uma mera constatação sobre a visão que os franceses têm deles mesmos.

Pois então. Uma vez que pensam assim, os franceses elegem seus presidentes pensando não só na própria pele, mas também na pele das pessoas do resto do globo. E isso é uma coisa que eu acho muito interessante. Que outro país ou povo tem uma postura como essa diante da humanidade como um todo?

Sarkozy chegou a ser muito temido por suas tendências xenófobas. As pessoas perguntavam-se como ficariam as relações internacionais da França caso ele fosse eleito. Esse pensamento era tão forte que pensadores de todo o país começaram a alertar os eleitores sobre a necessidade de pensar mais na própria França, em sua necessidade de recuperar os índices de crescimento perdidos, coisas talvez possíveis somente com a administração linha dura de Sarkô.

O medo das pessoas deve ter amedrontado Sarkozy ele mesmo, pois seu primeiro discurso depois de eleito foi uma ode à tolerância e à fraternidade entre os povos. Parecia um messias falando. Até seus críticos mais ferrenhos ficaram surpresos com a mudança súbita de postura. Pode ter sido tudo pose, claro, mas pessoalmente quero acreditar que Sarkô percebeu que o povo francês não vai permitir facilmente que se perca de vista os valores que eles acreditam representar.

Não tem conclusão esse post. Talvez queira ser uma espécie de provocação. Porque às vezes eu tenho a impressão de que os brasileiros não conseguem ver tão além assim do próprio umbigo. E eu acho isso meio preocupante. Não estamos sozinhos nessa nave, não é preciso lembrar. O Líbano está em polvorosa de novo, a família de Walid, meu amigo querido, corre perigo mais uma vez. Acho que o mínimo que a gente pode fazer é saber do que se trata aquela confusão toda lá.

Wednesday, May 16, 2007

"Gostar de X" versus "X ser bom"

As pessoas gostam ou não de filmes (ou livros, ou música, o que for) por vários motivos, mas sempre há um forte componente emocional. Isso é reflexo de um fenômeno mais geral: gostamos de achar que estamos no controle, que nossas decisões são racionais, mas a neurociência atual parece indicar que raramente são. O que temos são um conjunto de racionalizações que criamos post factum, após ter decidido segundo critérios mais obscuros de nossa psiquê.

Fato é que a maioria das pessoas tende a equacionar "eu gostei de X" com "X é bom" em um silogismo meio falho. No exemplo de filmes: Eu gostei de Matrix; logo, Matrix é um bom filme. Já consigo ver pessoas nos comentários discutindo os méritos (ou falta deles) de Matrix; não é a questão aqui. A questão é pensar direito sobre essa questão; pensemos: será que tudo que eu gosto é necessariamente bom? Quem nunca gostou de alguma coisa que sabia que era ruim, seja uma novela, uma boy band ou um filme B de ficção-científica? Em inglês tem até uma expressão para isso: guilty pleasure.

Então vamos desvincular as coisas. Tenho certeza que a mãe de Fernandinho Beira-mar gosta muito dele, e que a mãe de Suzane von Richthofen gostou dela até a morte, mas isso não quer dizer que essas pessoas sejam boas. Isso vale no outro sentido também: pode muito bem existir algum livro ou filme ou música que tem incontáveis qualidades e é amado e louvado por críticos e aficcionados do mundo todo, e mesmo assim a pessoa não simpatiza com a coisa amada e louvada por todos. Alguma vergonha nisso? Existe motivo para dizer "eu AMO Fellini" quando se dormiu vendo Otto e mezzo? Eu acho que não. Tenhamos gosto próprio, por favor. Eu mesmo só vi um filme de Fellini, e achei chatíssimo.

Por isso mesmo posso comentar aqui, eventualmente, sobre livros e filmes e músicas e qualquer outra coisa que é ruim mas eu gosto. Ou que são boas mas eu não gosto, embora isso seja mais difícil porque eu prefiro comentar sobre as coisas que eu gosto, naturalmente.

Não, Matrix não está nos planos. Por enquanto.

Monday, May 7, 2007

Críticas pontuais à série Heroes

E agora para algo um tanto diferente: nosso amigo e comentarista Wilson decidiu enviar-nos um texto sobre a sére de TV Heroes, aproveitando o ensejo do último post. Aí está.


Críticas pontuais à série Heroes

Por: Wilson, a bola


Heroes foi concebido por Tim Kring com a intenção de se aproximar dos comics. E nisso a série funciona. Heroes é sobre pessoas que descobrem que têm poderes, como voar, ficar invisível, controlar o espaço-tempo(!) etc.

Mas a série só engrena a partir do sétimo episódio, quando as semelhanças com os quadrinhos se tornam evidentes. Se você conseguir chegar até lá, parabéns. Pois os episódios antes disso são muito chatos. Um ponto fraco do roteiro nessa fase é não obedecer a uma receita básica de história de heróis: não há um inimigo.

Soma-se a isso a demonstração excessiva do poder de alguns heróis, como a líder de torcida (Claire) e o japonês (Hiro). Ela tem o poder de se regenerar, mas nos primeiros capítulos você acha que na verdade ela é de vidro, pois a qualquer chance ela cai e se quebra toda; só pra regenerar depois e mostrar que “ela tem o poder”. E, acredite, ela cai muito nos primeiros episódios. Já Hiro, o japonês, tem seu poder demonstrado apenas por seu ponto de vista: quando ele o usa, todas as coisas ao seu redor param e só ele se movimenta no quadro. Isso acontece quando ele pára o espaço-tempo. Por várias vezes a gente vê Hiro se mexendo e mudando coisas na cena enquanto tudo está parado ao seu redor... Várias, várias, várias vezes. Várias mesmo. Não estou exagerando. Várias! Juro. Só no episódio 11, para alívio dos espectadores, alguém tem a idéia de mostrar isso diferente: do ponto de vista de outra pessoa. E funciona como as trucagens usadas por George Meliés: em um piscar de olhos, as coisas mudam ao seu redor e você nem sabe o porquê.

Eu não vou falar sobre como os personagens se encontram. Sim, pois vejam: a série se passa simultaneamente em Nova Iorque, Midland (Texas) e Las Vegas. E os personagens se encontram amiúde, sabe? Como se tudo acontecesse na cidade de Esperança, ou qualquer outra do interior. Fulano tá voando e resolve pousar no meio do deserto. E adivinhe quem ta lá no meio do deserto, exatamente no lugar onde fulano resolveu pousar? Sicrano! Que coisa. Aí Beltrano tá numa highway fugindo de uma louca e vê um acidente à frente, resolve parar e ver o que aconteceu. E quem foi que tava na mesma highway e teve a mesma idéia e tá lá vendo o acidente?? Sicrano!! Que coisa! É mais fácil acertar na mega-sena. Fora aquela impressão de “Ué! Todo mundo tem um poder? Todo mundo é especial?” Você se sentirá um lixo por não compartilhar disso com eles.

Mas as semelhanças com os quadrinhos é uma das coisas boas da série. Aliás, um dos heróis tem o poder de pintar o futuro. Quando ele faz isso em telas, as pinturas se assemelham mais a Frank Miller que a Goya.

O episódio 11 é o divisor de águas de Heroes. Antes disso, toda a história gira em torno de um evento futuro que foi pintado pelo artista aí de cima. E, é preciso dizer, antes do onze é tudo meio medíocre. Mas depois disso a série engrena de verdade. Aparece até um carinha que é a própria personalização do mal. Tá, é clichê, mas depois de onze episódios de heróis lutando contra... contra o que mesmo? Você já estará sentindo falta do “cara mau”.

Mesmo assim, Heroes consegue ser uma boa sacada. Não é por acaso que virou frisson. E mesmo prevendo futuras complicações para a série na segunda temporada por causa desse poder de Hiro de viajar no tempo, vale a pena conferir a primeira. Sim, porque um enredo com idas e vindas no tempo se torna demasiadamente complexo e chato para o espectador. Espero que Heroes não se torne uma luta de futuro contra passado. Ah, mais uma coisa! Vale a pena também dar uma conferida na atriz que faz Claire, a “menina de vidro”: muito gata! Quem me dera fosse ela naquela ilha deserta...

Wednesday, May 2, 2007

Heroes se aproxima do final

Da primeira temporada, pelo menos. Depois de um hiato de mais de mês, Heroes voltou a passar semana passada; há dois dias saiu outro episódio, o vigésimo dos 23 planejados para a temporada.

Eu justamente pensava, antes do episódio começar, que uma coisa legal da série é o personagem Ando, amigo de Hiro Nakamura. Ele faz, sem que isso fique muito explícito, o papel do ajudante do herói, do sidekick, coisa que caiu de moda mas todo mundo lembra, principalmente por causa de Robin. E houve uma época que todo herói, praticamente, tinha seu ajudante, muitas vezes uma pessoa comum, sem poderes especiais, mas que era importante para o herói de várias maneiras, tornando a coisa toda uma relação meio esquisita às vezes, e daí para acusações de homossexualidade à boca pequena foi um passo. Ajudava que o caso específico de Batman e Robin lembrava assim a instituição da pederastia como era na grécia antiga, aquela história de um homem mais velho educando um jovem pelos caminhos da vida e pelas delícias dos sentidos e... bem, por aí vai. Enfim, neste episódio de Heroes o papel de sidekick de Ando é ainda mais reforçado, trazendo até mesmo as conotações estranhas.

No final das contas, Heroes é uma coletânea, um amálgama de um conjunto de clichês consagrados dos quadrinhos de super-heróis, formatado para o contexto de uma série de TV. E muito bem feito, por sinal: os roteiros seguem uma estrutura narrativa mais similar à dos quadrinhos que à de séries dramáticas mais tradicionais. É um prato cheio para quem torrava todo o dinheiro da mesada com quadrinhos (sim, esse sou eu), embora a série seja muito boa mesmo para quem nunca tenha lido nada. Super heróis são altamente pop hoje, que o digam as bilheterias avassaladoras de certos filmes recentes. Alguém mais está com o sentido de aranha buzinando essa semana, ou sou só eu?

Neste episódio os roteiristas jogam na TV mais algumas idéias do quadrinho que parece ser a maior inspiração da série: X-Men. E com resultados muito bons. Dias de um Futuro Esquecido sempre foi uma das minhas sagas preferidas dos X-Men mesmo.

Eu tentei escrever esse post sem estragar nenhuma surpresa para quem ainda não viu a série, mas esse último comentário escapou, não teve jeito. Esperem mais comentários meus quando a temporada acabar. O meta-mistério que se impõe é: conseguirão os roteiristas continuar a série tão bem na próxima temporada?