Tuesday, December 18, 2007

Experimental e divertido ao mesmo tempo

Eu tinha a intenção de escrever um post sobre o Battles já faz um tempo, aí acabei incluindo o vídeo do post abaixo como lembrança da idéia. A demora acontece porque, cada vez mais, me dá preguiça de escrever posts longos. Ao mesmo tempo, sempre que eu penso em um assunto me vêm à mente vários outras coisas relacionadas, criando uma tendência a posts grandes, o que gera um paradoxo cerebral que ameaça os fundamentos da persona blogueira, ou algo assim.

Então aqui vai basicamente o resumo do que seria algo como uma resenha -- na verdade, mais um conjunto de impressões -- do primeiro álbum, Mirrored. A idéia principal era falar sobre música experimental, extendendo um pouco para arte experimental em geral.

Música experimental é uma empreitada arriscada, pela sua própria natureza. A idéia em si me parece extremamente válida: criar música fugindo um pouco mais das fórmulas pré-estabelecidas, já tão cansadas na nossa pós-modernidade contemporânea; algo novo, algo que não tenha sido ouvido antes. Quando não funciona, vira uma massa de ruídos estranhos e sons esquisitinhos que algumas pessoas se convencem a gostar (ou fingem) porque é cult. Mas, mesmo quando funciona, a música experimental normalmente pode ser interessante, cerebral, "viajante", intrigante até, mas quase nunca é legal ou divertida. E o Battles consegue fazer música diferente e interessante, com gosto de coisa nova, e ao mesmo tempo divertida, até dançante em alguns momentos. Claro que ser divertido não é o único objetivo válido, mas é preciso convir que essa combinação é rara.

Não só isso: as próprias músicas do álbum são bem diferentes entre si. Tem algumas características constantes, claro: a bateria de John Stanier, ex-Helmet, e os vocais sempre com efeitos. Mas de uma faixa para outra muda o suficiente para um ouvinte casual se perguntar se ainda é a mesma banda. E, ainda assim, é um ótimo álbum: das 12 músicas só umas 2 que eu não gosto tanto e pulo quando estou escutando.

Resumindo o resumo: recomendo. E importante não se deixar espantar pelo rótulo "experimental". Porque, como o Battles parece demonstrar, experimental também pode ser divertido.

Friday, December 14, 2007

Uma das melhores músicas do ano



Battles - Atlas (do álbum Mirrored).
A versão do clipe tem alguns cortes, a completa é ainda melhor.

Wednesday, November 28, 2007

notas mentais

1 _ começar a estudar italiano pra valer com o intuito de morar em florença num futuro bem próximo (consequência de estudar arte renascentista italiana);

2 _ parar de só conseguir ver anjinhos gorduchos e encaracolados e brejeiros toda santa vez que se propõe a reparar a forma das nuvens no céu (consequência de estudar arte barroca brasileira);

3 _ não surtar de vez e para todo o sempre porque resolveu ter aulas de história da arte;

4 _ ter muita calma nessa hora.

Monday, October 15, 2007

E me deu até vontade de ver umas pipas no céu por aqui

Eu me considero uma pessoa bem aberta a novas experimentações, culturalmente falando. Não me lembro de ter me recusado a ver um filme, ou ler um livro, ou ouvir uma música, achando que ia ser ruim. Tá, tem coisas que você já sabe que não vai gostar, tipo, detestou "Amarelo Manga", porque raios veria "Baixio das Bestas"? Tirando esses casos, eu vejo, leio e escuto de tudo, no geral.
Aí, depois de ter começado - não exatamente lido até o fim, até agora - um clássico da literatura brasileira e outro da literatura mundial, eu me disse que iria ler um livro pop. Um daqueles da lista de mais vendidos. Afinal, continuo achando difícil que um integrante de uma lista qualquer de mais vendidos seja pior que "O Código Da Vinci". E eu li "O Código Da Vinci". E gostei. Mas essa é outra estória.
Então. Eu tenho uma mãe e uma grande amiga que costumam ler os best-sellers com frequência. Não foi difícil me decidir por "O Caçador de Pipas" de Khaled Hosseini. Interessava a uma - que patrocinou a compra - e emocionou a outra - que apoiou a compra. Comecei a ler sem botar muita fé, pensando comigo que seria um bom passatempo, como "O Código Da Vinci" foi (amigos cults, podem criticar nessa hora, eu deixo. E já prevejo o que vocês dirão..).
Duas páginas depois eu estava aos prantos, amando aquela estória toda, dramática e exótica.
Terminada a leitura, o balanço, aqui e agora. Não é um livro ruim. É passatempo, quase puro e simples, não fosse por uma informação ou outra sobre o Afeganistão que eu desconhecia completamente. Não é um livro ótimo. É meloso e cheio de clichês, e aquela coisa de botar uma palavra em árabe ou farsi em cada frase cansa antes do final do primeiro capítulo. Mas, eu recomendo. Porque é aquela coisa que eu digo sempre, inteligência em tempo integral cansa deveras. Pelo menos a mim cansa. E esse é um livro que se lê de um sopro, sem maiores preocupações, mesmo sendo meio grandinho. Porque "Sagarana", minha gente, eu vou dizer, é pelo menos uma olhada no dicionário a cada parágrafo; e "Lorde Jim", eu vou dizer também, é uma olhada no mapa mundi a cada frase. E agora, nesse minuto eu tou cansada de dicionários e mapas mundi e inteligência e cultura erudita e quero mais é sossego.
Sossego nunca é demais. Às vezes. Não é verdade?

Sunday, August 19, 2007

Vai ter bolão?

Prêmios são divertidos. Eu não só costumo acompanhar o Oscar e outras premiações mais visadas do cinema, como já houve um ano em que acompanhei, via blogs, muito da politicagem envolvida nos bastidores. O problema dos prêmios é quando são levados a sério demais; aí, realmente, há injustiça, e os ganhadores são muitas vezes escolhidos por critérios que têm pouco a ver com o valor artístico da obra (alguém lembra do ano dos negros no Oscar?). Isto é, se é que alguém consegue definir objetivamente o valor de alguma coisa.

Mas, apesar disso tudo, é divertido acompanhar as decisões e louvar ou reclamar dos ganhadores, o que sempre inclui as discussões sobre quem mereceu e quem não mereceu, quem foi esquecido, etc. E nesse momento o prêmio pode até ser visto como desculpa para discutir cinema, ou literatura, ou o que seja. Nenhum prêmio nunca vai ser perfeito, mas eles são frequentemente interessantes.

Lucas Murtinho pensa parecido, e juntou alguns representantes da cartolagem da literatura nacional em torno do projeto da Copa de Literatura Brasileira: 16 livros em um mata-mata de onde só um sairá vitorioso. Vejam mais no site, mas eu com certeza vou acompanhar. O Tournament of Books, inspiração original para a Copa, é bem divertido.

Monday, June 25, 2007

Novo filme de Audrey Tautou

Este é o cartaz de Becoming Jane, filme que será lançado em breve. Mais uma cinebiografia para a coleção, desta vez da escritora Jane Austen. Na foto, podemos ver Audrey Tautou, a eterna Amélie, abraçada com quem quer que seja o ator que fará o interesse romântico dela no filme. Só que ali nos créditos não aparece Audrey Tautou, e sim Anne Hathaway, aquela de O Diabo Veste Prada.

Acho que alguém se enganou aí, ou elas brincaram de "eu faço seu cartaz e você faz o meu". Tudo bem, eu sei que não tem graça. Mas a observação procede.

Thursday, May 31, 2007

En Taro Adun!

Não sou muito da idéia de postar notícias aqui, mas há um conjunto de fatores em ação que resultaram neste post: 1) para manter a coisa fluindo 2) o acontecimento tem significância, pelo menos para mim e 3) porque eu já queria falar sobre games aqui antes; fica como estréia.

A questão é que, há alguns dias, a Blizzard -- empresa que faz uns jogos bem legais como Diablo e Warcraft -- decidiu anunciar uma notícia bombástica em um evento na Coréia do Sul. O lugar tem sua significância, já que os coreanos ficaram tão viciados nos jogos de estratégia da Blizzard que praticamente os transformaram em esportes nacionais. Os campeonatos são até transmitidos pela TV, em horário nobre. E aí todos já esperavam o anúncio de um novo jogo. E as especulações giravam em torno da continuação de StarCraft, o jogo de estratégia em tempo-real mais bem sucedido de todos os tempos, que ainda registra um número de vendas significativo apesar de ter sido lançado há quase 10 anos -- coisa rara no ramo. Dia desses mesmo, vi a caixinha à venda numa mega-store da Saraiva.

O importante, nesse ponto, é notar que especulações e boatos sobre uma continuação de StarCraft aconteciam na internet de forma repetida, transformando esse possível StarCraft 2 em algo como uma lenda, um mito; como aquelas histórias que se você não mandasse X mensagens repetidas para todos da sua lista do msn, a microsoft iria cobrar 10 centavos por cada mensagem enviada, só que mais duradoura.

Mas é que foi, é mesmo StarCraft II. Posso apenas imaginar a comoção nacional causada lá na Terra da Manhã Tranqüila. Não só isso: a Blizzard revelou que o jogo está em desenvolvimento, em segredo, já desde 2003, após o lançamento de Warcraft III. Pelo que eu vi do jogo (tem um vídeo mostrando uma demo do jogo no site) ele realmente está bem encaminhado; deve faltar mais balanceamento estratégico e criação de unidades, o engine gráfico aparenta já estar pronto.

Que venha. Só é uma pena porque ainda não foi anunciada data de lançamento, o que não adiantaria muito mesmo porque a Blizzard sempre atrasa. Com uma data, eu poderia saber com antecedência quando é que minha produtividade vai sofrer um baque. Já posso ver a cena:

"En Taro Adun, Orientador. Não, não terminei de coletar os dados, estive muito ocupado livrando o universo dos Zergs."

Tuesday, May 22, 2007

O futuro da França, e do mundo todo junto com ela

Bruno provocou, no ótimo sentido, claro, (no flog, tudo bem, mas vale) e eu resolvi responder. Porque eu me disse que eu ia falar sobre isso aqui e nem falei. Falo, agora, pois.

Eleições presidenciais na França.

Vou abster-me de comentar a disputa em si e apontar apenas uma coisa com a qual tenho mais intimidade: o comportamento dos franceses diante do processo todo.

Nos dias das duas votações _ de primeiro e segundo turno _ alguns franceses amigos que moram em Campinas reuniram-se aqui em casa pra assistir à cobertura da votação, à divulgação do resultado e ao pronunciamento do(s) vencedor(es). Todo mundo numa ansiedade só, muito vinho pra aguentar a espera, o maior clima de final de Copa do Mundo. E só se falou disso por semanas inteiras. Da participação massiva da população, que superou com folga as marcas das eleições anteriores, e da vitória de Sarkozy, que era tida como certa por quase todo mundo bastante tempo antes do segundo turno, e do que ela representaria, não só para a França, mas para todo o mundo.

Eu poderia dizer que os franceses são mais politizados do que nós, e que acompanham as mudanças políticas de seu país com mais fervor e entusiasmo, mas não é esse o meu ponto.

O meu ponto é: os franceses se acham muito importantes. Claro que isso é horrível, muitas vezes, quem convive com eles sabe bem disso. Mas, em outras vezes, isso é uma prova impressionante de lucidez.

Eles têm perfeita consciência de que a França representa muitos valores que o mundo inteiro tem como fundamentais. Eles sabem que a França ainda é um bastião de resistência contra o autoritarismo, seje ele de que tipo for, ou de onde quer que venha. Têm certeza de que sua cultura e seu modo de vida influenciam, ainda e em grande medida aquilo que se pensa, se produz e se consome por todos os lados.

Vejam bem, eu não estou afirmando que a França representa isso ou aquilo, que é isso ou aquilo, que a cultura francesa faz ou desfaz. Esta é uma mera constatação sobre a visão que os franceses têm deles mesmos.

Pois então. Uma vez que pensam assim, os franceses elegem seus presidentes pensando não só na própria pele, mas também na pele das pessoas do resto do globo. E isso é uma coisa que eu acho muito interessante. Que outro país ou povo tem uma postura como essa diante da humanidade como um todo?

Sarkozy chegou a ser muito temido por suas tendências xenófobas. As pessoas perguntavam-se como ficariam as relações internacionais da França caso ele fosse eleito. Esse pensamento era tão forte que pensadores de todo o país começaram a alertar os eleitores sobre a necessidade de pensar mais na própria França, em sua necessidade de recuperar os índices de crescimento perdidos, coisas talvez possíveis somente com a administração linha dura de Sarkô.

O medo das pessoas deve ter amedrontado Sarkozy ele mesmo, pois seu primeiro discurso depois de eleito foi uma ode à tolerância e à fraternidade entre os povos. Parecia um messias falando. Até seus críticos mais ferrenhos ficaram surpresos com a mudança súbita de postura. Pode ter sido tudo pose, claro, mas pessoalmente quero acreditar que Sarkô percebeu que o povo francês não vai permitir facilmente que se perca de vista os valores que eles acreditam representar.

Não tem conclusão esse post. Talvez queira ser uma espécie de provocação. Porque às vezes eu tenho a impressão de que os brasileiros não conseguem ver tão além assim do próprio umbigo. E eu acho isso meio preocupante. Não estamos sozinhos nessa nave, não é preciso lembrar. O Líbano está em polvorosa de novo, a família de Walid, meu amigo querido, corre perigo mais uma vez. Acho que o mínimo que a gente pode fazer é saber do que se trata aquela confusão toda lá.

Wednesday, May 16, 2007

"Gostar de X" versus "X ser bom"

As pessoas gostam ou não de filmes (ou livros, ou música, o que for) por vários motivos, mas sempre há um forte componente emocional. Isso é reflexo de um fenômeno mais geral: gostamos de achar que estamos no controle, que nossas decisões são racionais, mas a neurociência atual parece indicar que raramente são. O que temos são um conjunto de racionalizações que criamos post factum, após ter decidido segundo critérios mais obscuros de nossa psiquê.

Fato é que a maioria das pessoas tende a equacionar "eu gostei de X" com "X é bom" em um silogismo meio falho. No exemplo de filmes: Eu gostei de Matrix; logo, Matrix é um bom filme. Já consigo ver pessoas nos comentários discutindo os méritos (ou falta deles) de Matrix; não é a questão aqui. A questão é pensar direito sobre essa questão; pensemos: será que tudo que eu gosto é necessariamente bom? Quem nunca gostou de alguma coisa que sabia que era ruim, seja uma novela, uma boy band ou um filme B de ficção-científica? Em inglês tem até uma expressão para isso: guilty pleasure.

Então vamos desvincular as coisas. Tenho certeza que a mãe de Fernandinho Beira-mar gosta muito dele, e que a mãe de Suzane von Richthofen gostou dela até a morte, mas isso não quer dizer que essas pessoas sejam boas. Isso vale no outro sentido também: pode muito bem existir algum livro ou filme ou música que tem incontáveis qualidades e é amado e louvado por críticos e aficcionados do mundo todo, e mesmo assim a pessoa não simpatiza com a coisa amada e louvada por todos. Alguma vergonha nisso? Existe motivo para dizer "eu AMO Fellini" quando se dormiu vendo Otto e mezzo? Eu acho que não. Tenhamos gosto próprio, por favor. Eu mesmo só vi um filme de Fellini, e achei chatíssimo.

Por isso mesmo posso comentar aqui, eventualmente, sobre livros e filmes e músicas e qualquer outra coisa que é ruim mas eu gosto. Ou que são boas mas eu não gosto, embora isso seja mais difícil porque eu prefiro comentar sobre as coisas que eu gosto, naturalmente.

Não, Matrix não está nos planos. Por enquanto.

Monday, May 7, 2007

Críticas pontuais à série Heroes

E agora para algo um tanto diferente: nosso amigo e comentarista Wilson decidiu enviar-nos um texto sobre a sére de TV Heroes, aproveitando o ensejo do último post. Aí está.


Críticas pontuais à série Heroes

Por: Wilson, a bola


Heroes foi concebido por Tim Kring com a intenção de se aproximar dos comics. E nisso a série funciona. Heroes é sobre pessoas que descobrem que têm poderes, como voar, ficar invisível, controlar o espaço-tempo(!) etc.

Mas a série só engrena a partir do sétimo episódio, quando as semelhanças com os quadrinhos se tornam evidentes. Se você conseguir chegar até lá, parabéns. Pois os episódios antes disso são muito chatos. Um ponto fraco do roteiro nessa fase é não obedecer a uma receita básica de história de heróis: não há um inimigo.

Soma-se a isso a demonstração excessiva do poder de alguns heróis, como a líder de torcida (Claire) e o japonês (Hiro). Ela tem o poder de se regenerar, mas nos primeiros capítulos você acha que na verdade ela é de vidro, pois a qualquer chance ela cai e se quebra toda; só pra regenerar depois e mostrar que “ela tem o poder”. E, acredite, ela cai muito nos primeiros episódios. Já Hiro, o japonês, tem seu poder demonstrado apenas por seu ponto de vista: quando ele o usa, todas as coisas ao seu redor param e só ele se movimenta no quadro. Isso acontece quando ele pára o espaço-tempo. Por várias vezes a gente vê Hiro se mexendo e mudando coisas na cena enquanto tudo está parado ao seu redor... Várias, várias, várias vezes. Várias mesmo. Não estou exagerando. Várias! Juro. Só no episódio 11, para alívio dos espectadores, alguém tem a idéia de mostrar isso diferente: do ponto de vista de outra pessoa. E funciona como as trucagens usadas por George Meliés: em um piscar de olhos, as coisas mudam ao seu redor e você nem sabe o porquê.

Eu não vou falar sobre como os personagens se encontram. Sim, pois vejam: a série se passa simultaneamente em Nova Iorque, Midland (Texas) e Las Vegas. E os personagens se encontram amiúde, sabe? Como se tudo acontecesse na cidade de Esperança, ou qualquer outra do interior. Fulano tá voando e resolve pousar no meio do deserto. E adivinhe quem ta lá no meio do deserto, exatamente no lugar onde fulano resolveu pousar? Sicrano! Que coisa. Aí Beltrano tá numa highway fugindo de uma louca e vê um acidente à frente, resolve parar e ver o que aconteceu. E quem foi que tava na mesma highway e teve a mesma idéia e tá lá vendo o acidente?? Sicrano!! Que coisa! É mais fácil acertar na mega-sena. Fora aquela impressão de “Ué! Todo mundo tem um poder? Todo mundo é especial?” Você se sentirá um lixo por não compartilhar disso com eles.

Mas as semelhanças com os quadrinhos é uma das coisas boas da série. Aliás, um dos heróis tem o poder de pintar o futuro. Quando ele faz isso em telas, as pinturas se assemelham mais a Frank Miller que a Goya.

O episódio 11 é o divisor de águas de Heroes. Antes disso, toda a história gira em torno de um evento futuro que foi pintado pelo artista aí de cima. E, é preciso dizer, antes do onze é tudo meio medíocre. Mas depois disso a série engrena de verdade. Aparece até um carinha que é a própria personalização do mal. Tá, é clichê, mas depois de onze episódios de heróis lutando contra... contra o que mesmo? Você já estará sentindo falta do “cara mau”.

Mesmo assim, Heroes consegue ser uma boa sacada. Não é por acaso que virou frisson. E mesmo prevendo futuras complicações para a série na segunda temporada por causa desse poder de Hiro de viajar no tempo, vale a pena conferir a primeira. Sim, porque um enredo com idas e vindas no tempo se torna demasiadamente complexo e chato para o espectador. Espero que Heroes não se torne uma luta de futuro contra passado. Ah, mais uma coisa! Vale a pena também dar uma conferida na atriz que faz Claire, a “menina de vidro”: muito gata! Quem me dera fosse ela naquela ilha deserta...

Wednesday, May 2, 2007

Heroes se aproxima do final

Da primeira temporada, pelo menos. Depois de um hiato de mais de mês, Heroes voltou a passar semana passada; há dois dias saiu outro episódio, o vigésimo dos 23 planejados para a temporada.

Eu justamente pensava, antes do episódio começar, que uma coisa legal da série é o personagem Ando, amigo de Hiro Nakamura. Ele faz, sem que isso fique muito explícito, o papel do ajudante do herói, do sidekick, coisa que caiu de moda mas todo mundo lembra, principalmente por causa de Robin. E houve uma época que todo herói, praticamente, tinha seu ajudante, muitas vezes uma pessoa comum, sem poderes especiais, mas que era importante para o herói de várias maneiras, tornando a coisa toda uma relação meio esquisita às vezes, e daí para acusações de homossexualidade à boca pequena foi um passo. Ajudava que o caso específico de Batman e Robin lembrava assim a instituição da pederastia como era na grécia antiga, aquela história de um homem mais velho educando um jovem pelos caminhos da vida e pelas delícias dos sentidos e... bem, por aí vai. Enfim, neste episódio de Heroes o papel de sidekick de Ando é ainda mais reforçado, trazendo até mesmo as conotações estranhas.

No final das contas, Heroes é uma coletânea, um amálgama de um conjunto de clichês consagrados dos quadrinhos de super-heróis, formatado para o contexto de uma série de TV. E muito bem feito, por sinal: os roteiros seguem uma estrutura narrativa mais similar à dos quadrinhos que à de séries dramáticas mais tradicionais. É um prato cheio para quem torrava todo o dinheiro da mesada com quadrinhos (sim, esse sou eu), embora a série seja muito boa mesmo para quem nunca tenha lido nada. Super heróis são altamente pop hoje, que o digam as bilheterias avassaladoras de certos filmes recentes. Alguém mais está com o sentido de aranha buzinando essa semana, ou sou só eu?

Neste episódio os roteiristas jogam na TV mais algumas idéias do quadrinho que parece ser a maior inspiração da série: X-Men. E com resultados muito bons. Dias de um Futuro Esquecido sempre foi uma das minhas sagas preferidas dos X-Men mesmo.

Eu tentei escrever esse post sem estragar nenhuma surpresa para quem ainda não viu a série, mas esse último comentário escapou, não teve jeito. Esperem mais comentários meus quando a temporada acabar. O meta-mistério que se impõe é: conseguirão os roteiristas continuar a série tão bem na próxima temporada?

Wednesday, April 25, 2007

Hello ma baby!

Falar sobre animação com música e histórias contadas sem diálogos me fez lembrar desse desenho do sapo. Que eu assisti várias vezes na TV enquanto crescia, e era sempre o desenho do sapo, que eu achava muito legal mas era só o desenho do sapo. Só recentemente é que descobri que o nome do desenho é One Froggy Evening e que ele é considerado um dos melhores curtas de animação americanos de todos os tempos. É inclusive um dos poucos desenhos selecionados pela Biblioteca do Congresso dos EUA para ser preservado no National Film Registry.

E é mesmo uma história completa, interessante e engraçada contada em apenas 6 minutos, sem nenhum diálogo, e com uma trilha composta de música americana de raiz, principalmente ragtime. E ainda tem para ver no YouTube.

Thursday, April 19, 2007

Anime sinestésico

Estava ouvindo Homework, do Daft Punk, quando lembrei de uns clipes que tinha visto na MTV há uns anos. Os clipes mostravam um anime acompanhando a música, e a história dos clipes de músicas diferentes se encaixavam, como parte de uma história maior. E as músicas eram legais. Desde essa época eu sempre pensei em procurar o álbum todo, e ver se cada música tinha uma parte da história. Agora que tinha lembrado da dupla, resolvi finalmente realizar a busca.

Descobri que o álbum em questão se chama Discovery. E sim, cada música corresponde a uma parte da história, compondo o anime Interstella 5555: The 5ecret 5tory of the 5ecret 5tar 5ystem. A animação segue as faixas do álbum na ordem, sem diálogos e com esparsos efeitos sonoros. A história é contada visualmente, e algumas vezes reforçada pelo conteúdo das letras -- nas poucas músicas que não são apenas instrumentais.

Essa idéia curiosa partiu do próprio Daft Punk, que segundo a Wikipedia foi ao Japão logo após concluir a produção do álbum para recrutar o lendário desenhista Leiji Matsumoto, de quem eram fãs -- provavelmente por terem assistido Space Battleship Yamato ou Galaxy Express 999 quando crianças.

O resultado é algo incomum e um tanto hipnótico. A animação é excelente, e o clima em cada música é fielmente refletido na história e no visual. O estilo retrô de Matsumoto -- que fez sucesso principalmente nas décadas de 70 e 80 -- combina perfeitamente com as músicas, que usam samples de sucessos dessa época. A história é simples e fantasiosa, mas bem amarrada; no geral ela funciona muito bem, exceto pelo final, quando parece que os conflitos já foram todos resolvidos mas ainda sobrou música para animar. Fica um pouco arrastado, mas nada muito problemático.

Musicalmente, eu gostei bem mais do Discovery que do Homework, o anterior. Tem algumas músicas que eu não gosto muito, mas a maioria é boa. As boas são mais bem resolvidas e interessantes de escutar (e não apenas dançar numa festa) do que as do trabalho anterior. Música eletrônica com toques de disco e referências a convenções de vários estilos diferentes.

Mas a força do anime vem mesmo do conjunto. A combinação entre animação e música é perfeita, e é algo que não se vê sempre. Acho até difícil dissociar as duas partes, tanto que quando quero ouvir alguma faixa eu prefiro abrir o vídeo e avançar para o lugar certo do que ouvir o mp3. É algo hipnótico mesmo. Minha parte preferida é a que vai da segunda até a quarta música, na seqüência: Aerodynamic, Digital Love e Harder, Better, Faster, Stronger. Essa última é, para mim, o ponto máximo do trabalho: é quando a música, a animação e a combinação entre as duas atinge seu melhor. Não que o resto não seja bom.

Para assistir: no YouTube tem ele completo em 7 partes, e os clipes que saíram originalmente, que correspondem às quatro primeiras partes da história (e às quatro primeiras músicas do álbum, consequentemente). Os clipes são: One More Time, Aerodynamic, Digital Love e Harder, Better, Faster, Stronger. Essa playlist tem o link para as 7 partes do anime completo. No Google Video tem ele completo, em uma única parte, duas vezes (e com o Player da Google, é possível baixar e ver em maior qualidade). Para quem gostar mesmo tem o DVD, infelizmente não lançado no Brasil.

Tuesday, April 17, 2007

Ilha das Flores

Bruno já falou sobre o curta de Jorge Furtado em dois posts recentes. Aqui vou apenas apontar os links para quem quiser assistir o curta. Tem em duas opções: YouTube e Google Video.

No YouTube, por conta do limite de tempo nos vídeos, ele está em duas partes: Parte 1 e Parte 2. A qualidade é razoável.

No Google Video tem ele inteiro aqui. Por questões da estratégia de negócios do Google, o vídeo no site tem qualidade ruim. O negócio é baixar o Google Video Player e assistir nele, com qualidade maior. E o player ainda baixa o vídeo para sua máquina, embora em um formato que não dá para assistir em outros players.

De qualquer forma, seja YouTube ou Google, é melhor do que ver no PortaCurtas.

Wednesday, April 11, 2007

Infantil, mesmo

Se você tem uma criança pra levar ao cinema, ou seja, um motivo real e concreto para ir até lá, então vale a pena assistir Arthur e os Minimoys, a semi-animação de Luc Besson, ele mesmo, o super cult diretor francês que resolveu inovar.

Se você não tem uma criança pra levar ao cinema, não assista. Espere passar na tv num dia em que você estiver à toa na vida. Isso porque, veja bem, não é um filme ruim, mas você não vai perder nada demais se não assistir.

Só tem duas coisas que eu sublinharia nessa produção _ as vozes de Madonna, Snoop Dogg e David Bowie, nem sempre fáceis de encontrar nos filmes por aí, em especial nos filmes infantis; e os maneirismos franceses, esses sim, dificílimos de encontrar em filmes infantis. Crianças que namoram, consomem bebidas alcóolicas suspeitas (verdes e fumacentas) e dançam colados ao som de reggaes e raps. Duvido que um filme americano pra crianças escapasse no policiamento que assola aquele país e deixasse detalhes como esses passarem batidos. Só um europeu pra conseguir o feito mesmo.

Bem, talvez isso já valha o filme.

Friday, April 6, 2007

Uma adolescente perdida no século XVIII

Maria Antonieta é um filme interessante por ter várias cenas interessantes de se ver, de perceber como Sofia Coppola abordou a construção de cada uma delas, e da relação entre elas para construir a personagem do título.

Mas interessante não é necessariamente bom: ficou faltando algo. Hora de falar chique: ficou faltando a qualidade da Gestalt, do todo ser maior que simplesmente a soma das partes. Ou a coisa que o arquiteto Christopher Alexander chamou de qualidade sem nome. É aquela unidade de propósito e idéias que traz grande beleza a algum produto humano, seja um filme, um prédio ou uma teoria matemática.

Pode ter sido problema de expectativa, já que eu costumo não ler nenhuma resenha antes de ver um filme. Ou eu posso ter achado mais difícil me identificar com a personagem, ao contrário de Encontros e Desencontros. Talvez eu até goste mais dele se assistir uma segunda vez. Mas, de primeira, achei interessante. Cheio de coisas interessantes. Mas não realmente bom.

E tenho certeza que minha sócia gostará bem mais do que eu.

Thursday, April 5, 2007

BBB

Aqui e aqui, textos e reflexões interessantes sobre o Big Brother Brasil que vão além das obviedades. Especialmente o segundo, que é mais longo e no qual o autor tenta expressar por que gosta do programa.

Eu não assisto o Big Brother, normalmente, mas eu assisti boa parte do primeiro e do segundo, se me lembro bem, em tempos menos ocupados. E eu achava interessante justamente, como comentava com um nosso comentarista fantasma dia desses na Pizza Hut, como a edição transformava o programa numa espécie de novelinha, com mocinhos e vilões.

E assim foi que eu gostei destes textos. Apesar do tom meio de pregação do segundo (ok, nós entendemos que você gosta do programa, não precisa se defender tanto), são boas leituras.

Friday, March 30, 2007

Fantasia intimista

Animações 3D com bichos, filmes baseados em heróis de quadrinhos e fantasia infanto-juvenil. A Santíssima Trindade da Hollywood atual, os filmes que dão lucro, que recuperam o dinheiro gasto com a maioria dos projetos que dão prejuízo -- ao menos na bilheteria. Tudo bem, é como o mercado funciona. Mas confesso que me dá um desânimo quando vejo mais um cartaz com bichinhos tridimensionais em cores vivas naquele clima de futura Sessão da Tarde. E eu sempre gostei de animação, seja tradicional ou 3D, mas por favor, tentem algo diferente de vez em quando. A repetição cansa.

Por força de ter sido produzido por algumas das mesmas empresas que trouxeram as Crônicas de Nárnia ao cinema, Ponte para Terabítia foi intencionalmente promovido como similar a O Leão, A Feiticeira e o Guarda-Roupa, uma fantasia assim para crianças e jovens que se passa em um mundo fantástico de criaturas místicas e lutas de espadas. Um filme para levar as crianças. E foi com essa expectativa que eu entrei na sala de cinema: mais uma fantasia infanto-juvenil. E não só eu, considerando que todos os outros adultos na sala estavam acompanhados de crianças.

Na verdade, Ponte para Terabítia é fantasia para crianças e jovens, e é um filme para levar as crianças. E acredito que seja um bom filme para crianças. Mas aí meia hora depois do começo do filme ainda não tinha aparecido nenhum efeito especial, e eu fiquei questionando minhas expectativas. Ao invés de computação gráfica, desenvolvimento de personagens, essa coisa antiquada. Vai que no final o filme é muito mais uma fantasia intimista, o que quer que isso signifique, do que algo ostensivo como Senhor dos Anéis ou Narnia.

E é aquela história: diverte crianças e adultos igualmente. A história pode ser entendida em mais de um nível, para usar um clichê. Quem for de choro pode levar um lenço, porque dá sim para verter umas lágrimas.

E boas atuações, o que vale mais porque são crianças. No todo é um filme bem feito e bonito. Não falei e não vou falar sobre a história, e é de propósito. Tem crianças e um mundo de fantasia, embora um tanto diferente. Mas eu entrei no cinema sem saber ou esperar muita coisa e saí surpreso e animado, daquele jeito que se sai da sala depois de um filme realmente bom. Talvez só seja possível sentir o mesmo que eu para quem for sem saber nada da história ou do que esperar. Melhor ainda se não ler este post.

Sobremesas são importantes


Match Point é um jantar completo. Scoop não passa de uma sobremesa. Foi o próprio Woody Allen quem forneceu essa definição curiosa _ em entrevista à revista Elle de março _ para seus dois filmes mais recentes, estrelados por sua nova musa (embora ele afirme não saber o que isso significa) Scarlett Johansson.

A opinião daquela que escreve essas linhas? Eu trocaria um jantar completo por uma simples sobremesa com relativa facilidade. Não que eu não tenha gostado de Match Point. Ao contrário, acho que é um filme genial, comparável a Annie Hall, o melhor de Allen pra mim. Mas Match Point carece daquela que é a essência da obra de Allen, a graça inteligente e ácida, mas ainda assim, leve e despretensiosa.

Scoop é assim. Cheio de graça, inteligente, ácido, leve e despretensioso. Scarlett não encarna (ufa!) uma mulher fatal, e isso é uma bênção, porque, no fim das contas, ela é bem divertida, fato esse quase sempre ocultado por suas formas voluptuosas, seus lábios carnudos e seus cabelos loiros.

Talvez eu tenha curtido o filme mais por motivos pessoais. A trama se passa em Londres, e só isso já conta muitos pontos num filme pra mim. O esnobe sotaque britânico, o cosmopolitismo londrino nato, a fixação que os ingleses têm pelo campo, o humor corrosivo e refinado dos servos da rainha Elizabeth. Tudo isso me agrada deveras. Tudo isso Scoop tem. E mais: Scarlett interpreta uma aspirante a jornalista. Uma estudante, vá lá. Identifiquei-me, pronto. Não que eu pretenda ser uma jornalista de verdade um dia, que dirá uma jornalista policial, mas identifiquei-me, é fato.

Gostei de Hugh Jackman também. Me fez esquecer por quase todo o filme que ele é e sempre será Wolverine, uma façanha considerável. Se vocês não associam Hugh Jackman a Wolverine necessariamente, perdoem, mas eu associo sim. Lembrem, eu tenho um filho de 7 anos totalmente fissurado pelos X-Men, e já vi os vários filmes da trupe algumas dezenas de vezes cada um. Pois, nem lembrei de Wolverine. O que me levou a pensar que a atuação do referido senhorito foi relativamente boa.

Outras coisas legais sobre o filme: o roteiro foi escrito sob medida para Scarlett exercitar seu lado comediante. A mim, pelo menos, ela não decepcionou. Scoop é cheio de bons improvisos. Woody Allen sempre diz que toda vez que ele tem uma tirada súbita durante uma cena, a maioria dos atores com quem contracena, por melhores que sejam, não resiste e cai na risada, o que, obviamente, estraga a performance toda. Scarlett entra na dança e responde na hora, sem demonstrar que está se segurando pra não morrer de rir. Scoop ainda tem Allen no elenco. Mais uma que ele não cansa de repetir: está ficando cada vez mais difícil pra ele achar papéis pra ele mesmo dentro de um filme. Allen é um diretor brilhante e um ator bem limitado, como todo mundo sabe, e ele não tem pudores de assumir. Ele é comediante, e só sabe interpretar a figura neurótica da trama. Para tanto, todos os fimes em que ele atua têm obrigatoriamente que ter uma figura cômica neurótica, o que dificulta o desenvolvimento de roteiros levemente diferenciados.

Então é isso. Vejam Scoop. Sem esperar demais dele. Divirtam-se e distraiam-se por 90 minutos de suas vidas atribuladas. E regozijem-se com a figura do mágico Splendini na tela. Pelo visto, vai ficar bem raro ver Woody Allen num filme de Woddy Allen daqui pra frente.